quinta-feira, 16 de agosto de 2007

E o poder assim, tão de férias...




Vivam as férias! A praia, o sol, o descanso. Estar com a família, visitar os lugares mais belos deste nosso Portugal. Poder ir para o interior, para a beira dos rios e dos riachos, conhecer a floresta, comer ao ar livre. Viva! Só que... Parece que nem todos têm férias: há os que as têm repartidas, há os dos contratos precários que – logo por azar! - acabam antes de se poder gozar férias, há os que nem têm contratos nem trabalho, há os que ficam em casa, porque nem dinheiro têm para comer, quanto mais para férias... Enfim, lá vem o desmancha-prazeres do anarquista da esquerda folclórica a estragar o retrato das férias.

Como anarquista, sempre de baterias assestadas ao poder e ao Estado, confesso que me sinto frustrado. Então não é que todo o poder foi de férias? Onde é que estão os governantes? Os deputados? Os juízes? Onde é que está o poder Executivo? O Legislativo? O Judicial? Nem me atrevo a responder... Realmente, confesso que não li nenhuma cláusula constitucional que diga expressamente que “todo o cidadão tem direito a ter férias”. Claro que, nos Direitos, Liberdades e Garantias, este direito às férias há-de estar contemplado. Mais: tem de estar contemplado!

Como não tive férias este ano, porque sou um anarquista desempregado, muitos pensarão que estou aqui a exprimir o meu ressentimento e frustração. Não! Então, até estou de férias todo o ano... O que me admira é que o poder esteja assim, tão de férias. Não lhes nego esse direito, até porque, quando voltam, trazem um bronzeado de fazer inveja a qualquer anarca pelintra. Naturalmente que, dadas algumas tristes experiências recentes com a liberdade de expressão nos blogues, nunca me arriscaria a ter um processo em cima por difamar governantes, deputados, juízes que andaram a “dar o litro” enquanto os outros gozavam o seu direito constitucional às férias. Não, isso não. Nunca!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Portugal é um país de pobres e de miséria!




Há uma característica generalizada nas sociedades opulentas – ou naquelas que pensam que o são, como a portuguesa – que é o de terem aquilo a que eu chamo impiedosamente os seus “pobrezinhos de estimação”. Assim como quem diz que "sempre houve pobres e sempre haverá". Hipocrisia das hipocrisias! É evidente que, não só como anarquista, mas também como cidadão, condeno este conceito perverso, que mais não faz do que perpetuar a miséria e a pobreza.

Segundo o discurso oficial do governo do senhor Sócrates (designação que me traz um enorme prazer vingativo), Portugal vive no melhor dos mundos possíveis. Ou seja, todos sabemos que vivemos num país pobre, com poucos recursos, pouco dinheiro, etc., mas está-se agora a fazer o que nunca se fez antes. Uma política financeira equilibrada, sem défice público, investimento nas áreas económicas prioritárias, como os campos de golfe e os hotéis de cinco estrelas, criação de infraestruturas a pensar no futuro, como o novo aeroporto da Ota, por exemplo, que permitirá o aumento do fluxo de voos dos ricaços de e para todas as partes do mundo.

Contudo, ninguém ignora que este discurso oficial é mera propaganda, destinada a defender os interesses capitalistas que protegem o poder e o Estado. A realidade é bem outra e refiro aqui o mais importante de tudo. Portugal é um país de pobres! Sugiro que leiam esta notícia que publiquei no meu site Contracorrente sobre esta questão. De acordo com dados recentes, o número de famílias beneficiárias de rendimento social de inserção (RSI) subiu dez mil em três anos. O distrito do Porto ocupa o primeiro lugar em matéria de famílias beneficiárias de RSI: 39.179 famílias, em Junho de 2007. O distrito de Lisboa conta com 29.644 agregados, ocupando o segundo lugar.

Face a esta dura realidade, não será tempo de abandonar a ideia de que sempre houve pobrezinhos e começar realmente a lutar contra ela? Como anarquista convicto e cidadão deste país afirmo conscientemente que Portugal é um país de pobres e de miséria!