sábado, 24 de janeiro de 2009

Encobrir, a regra de ouro


Como anarquista, uma das minhas missões prioritárias é a denúncia dos erros cometidos pelo Estado e pelo poder. E eis que surge uma nova situação que prova a associação obscura entre os interesses do Estado e interesses empresariais, no caso Freeport, que envolve a figura do primeiro-ministro, o Sócrates. Segundo notícias recentes, o tio do Sócrates admitiu ter proporcionado o encontro entre o actual primeiro-ministro e um tal de Charles Smith, sócio da Smith & Pedro, empresa contratada para conseguir o licenciamento do Freeport, o “outlet” de Alcochete. Para mais pormenores, sugiro que leiam esta notícia que publiquei no meu site Contracorrente, retirada do jornal Publico.pt.

Num DVD que está na posse das autoridades inglesas desde 2007, é possível ver-se uma conversa entre um administrador inglês da sociedade proprietária do “outlet” de Alcochete e Charles Smith, onde é denunciado o pagamento de “luvas” ao ministro português envolvido no caso. O caso tornou-se público em 2005, quando uma notícia de um dos importantes órgãos de comunicação da nossa praça, a escassos dias das eleições legislativas, divulgou um documento da Polícia Judiciária que mencionava o José Sócrates como um dos suspeitos. Figurava como suspeito de ter assinado um decreto-lei, enquanto ministro do Ambiente, que possibilitava a construção daquela infra-estrutura, já anteriormente chumbada mais do que uma vez, por colidir com os interesses ambientais acordados entre Portugal e a União Europeia.

E o que é que disse o Sócrates, confrontado com toda esta situação? “Eu bem posso falar, porque era ministro do Ambiente. Embora não tivesse participado no licenciamento, o Ministério do Ambiente fê-lo obedecendo a todas as normas e exigências ambientais”. Não duvidamos de que o tenha feito, ilegalmente, encobrindo motivações empresariais. Mais uma vez, temos a prova de que o poder usa de todos os seus estratagemas obscuros para beneficiar interesses privados, saindo, por seu lado, beneficiado. Um escândalo para a clareza da democracia e para a vontade dos cidadãos, como sempre atropelada e vilipendiada. Encobrir, é a regra de ouro do poder e do Estado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Finalmente, a recessão!

Finalmente, a recessão está aí! Parece que nunca mais desemburrava, mas agora já é pública, até que enfim! Digo isto porque, como anarquista, há muito tempo que tenho reparado que temos estado a viver em recessão económica e não tenho sido só eu a reparar nisto, como todos os cidadãos. Os únicos que têm ignorado este facto têm sido os governantes e os senhores do poder. Naturalmente, não lhes convinha dar sinais negativos à sociedade, para que esta continuasse a viver num doce engano.

Foi preciso que o Banco de Portugal fizesse o anúncio público do estado da nossa economia, para que o facto que tornasse real, palpável, face à classe política. Na terça-feira, foi divulgado o Boletim de Inverno do Banco de Portugal, que referia que o nosso país já se encontrava em recessão técnica nos últimos meses do ano passado e que, em 2009, iria entrar em recessão económica. Ao observar a imediata reacção dos políticos, este facto parecia uma novidade. Já se dizia que era preciso tomar medidas para enfrentar a situação e o próprio Teixeira dos Santos, o das Finanças, falou logo em elaborar um Orçamento suplementar para este ano.

O que é facto é que nós, os portugueses, já andamos a sentir na pele esta recessão desde há bastante tempo. As empresas fecham, o desemprego aumenta, o rendimento das famílias encolhe. Estas têm sido as realidades com as quais o povo tem vivido, independentemente de haver ou não uma recessão declarada. Não é necessário tornar público e oficial um facto que já era vivido, e bem duramente, pelas populações. O que é espantoso neste caso é que o anúncio oficial da recessão económica tenha desperto as consciências do poder. Que já sabiam do facto, bem entendido.